sessão da tarde

última folha do caderno que eu usava para estudar na casa da minha avó
A casa da minha avó sempre foi um bom lugar. Bonita não era, mas foram tantas as aventuras que vivi lá. Cinco ou seis anos, desde que nasci. Desenhos perdidos em cadernos com contas de meu avó. Eu nunca entendia o porquê de tantos números. Filmes da sessão da tarde, a maioria eu via, sentada no sofá preto com uma estampa nada a ver de símbolos brancos. Gostava de ajudar a amassar o pão, esperar ansiosa pra comer quentinho com alguma coisa, sempre cortado em vários quadradinhos. Horas não tinha pão caseiro, comia pão d'água com nata junto do café com leite. Imaginar que hoje nem gosto de café, mas esse nunca recusaria. Já quando chovia, em volta da casa, perto do muro, enchia de poças d´água, pequenos rios, os quais despachava muitos barcos-folha. Lembro de muitos vestidos, feitos por minha avó, todos tinham uma fita pra amarrar atrás e a saia esvoaçava ao girar. 

Mole, o dálmata, é o primeiro animal que lembro deles. Não parava quieto, e fugia sempre que o portão ficava aberto. O tempo depois que ele fugiu pra sempre, o que me entristeceu demais, foi curto até a adoção de Sheila, uma rottweiler antipática que sempre era presa em minha presença. Por último teve a Mel, uma mistura da cor de mel, a unica que conheci desde pequenina. 

Queria ir para a Terra do Nunca. Relembrar todas essas coisas me dói. Sempre passei esses dias, principalmente tardes, praticamente sozinha. Tortura-me saber que nunca mais vai ser assim. Uns dias a pouco, fui com meu pai mostrar a casa a prováveis inquilinos. Vovó mora a umas casas para o lado. Xodó dela, minha prima de seis anos, que a cuida mais que o contrário. Zelo e brinco nos dias que as visito. 


PS:  Escrevi esse texto na semana passada-passada e notei que mais gente escreveu sobre histórias da infância. Gostei muito de todas as histórias e vou deixa-las salvas aqui: twenty-one out of three thousand two-eighteen, escrito pela Viviane e Qual profissão eu vou seguir?, escrito pela Geórgia 

14 comentários

  1. O que mais me dava raiva é que na melhor parte do filme ia para o comercial,saudades dessa época. Ainda bem que pude viver minha infância sem a tecnologia avançada,pude aproveitar e agradecer pelas coisas que vivi! A minha vó fazia pão até pouco tempo,mas ela caiu e os braços dela estão machucados,o médico proibiu ela de fazer exercicios e para amassar o pão exige força né? Era uma delicia,ficava na expectativa de cortar e comer ele bem quentinho com manteiga (assado no forno a lenha ainda).. Eu lembro que uma vez a vizinha fez no cilindro,eu achava um máximo a massa fazer bolhas!

    Eu sou viciado em café preciso parar com isso definitivamente antes que me prejudique! Que bom ler uma história da sua infância,me fez lembrar a minha ♡

    uma figueira

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    1. tadinha :c nunca ouvi falar sobre esse cilindro, mas fiquei curiosa sobre como se faz pão nisso e nas bolhas sdoaksdo até fico deprimida em ver como os bebês hoje em dia sabem por vídeos no youtube. eles não saem do celular e assistem vídeos nada a ver. me assusta.
      que ótimo poder te lembrar desse tempo ❤

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  2. Ah, que texto mais lindo!
    Me lembrou muito da minha infância com a vovó, éramos vizinhas, ela me arrumava pra eu ir pra escola, as tardes com chá matte e bolinho de chuva ou torradas feitas com pão duro. Os cachorros que ela tinha na época já morreram, já estavam mais velhinhos. Que saudade, esse texto despertou muita alegria e nostalgia em mim aaaa <3

    beijos,
    a-mares-ia.blogspot.com

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    1. que bonita infância agora relembrei ainda mais desse tempo! muito obrigada c: fico feliz que tenha gostado das minhas lembranças, assim como adorei saber das tuas e de como ficou feliz com tudo isso ❤

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  3. Que textinho mais lindo, me fez lembrar de quando morava no interior e tudo era tão simples. Me fez sentir um conforto incrível. Que saudades!
    bjss

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    1. awnn >.< gostaria de morar no interior, ou em uma rua bem pacata. essas palavras também me confortam ❤

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  4. Aaaaah que post gostosinho. Me fez lembrar mais ainda da minha infância.
    Eu amava tanto assistir os filmes da sessão da tarde, que ás vezes eu implorava pra minha mãe (muitas vezes em vão) para faltar de aula e ficar assistindo os filmes que passava.
    As minhas lembranças nas casas das minhas avós também algumas são muito boas. É uma pena que algumas coisas daquela época tenha mudado, hoje.
    Eu assistia tanto 'Peter Pan na terra do nunca' que sempre eu me imaginava indo para aquelas terras imagináveis, para nunca ter que crescer. Crescer mudando da infância para adolescência e depois pra vida adulta é dolorido. Pois uma parte daquela magia de infância vai se perdendo infelizmente, e tudo vai mudando. Mas o que a gente não pode se esquecer é da criança dentro de nós.
    Eu adorei também saber sobre sua infância ♡♡♡

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    1. não sei como eu lembro de tantos dias assistindo sessão da tarde se era bem no turno em que estudava oasdkoaspk lembro que desde que eu tinha uns 3 anos já pensava em não querer crescer. o tempo é tão cruel, e as memórias vão ser apenas memórias. ainda espero ter boas aventuras e momentos mágicos enquanto o tempo estiver passando.

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  5. Eu amei conhecer um pouco da sua infância <3
    Fico pensando também nos tempos em que eu era criança e não me preocupava com muitas coisas.
    Definitivamente sessão da tarde me moldou huahuahua

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    1. não se preocupar com nada, ou se preocupar um pouquinho e minutos depois estar tudo bem. agora lembrei que me preocupava em saber se o filme da sessão da tarde seria com crianças e aventuras cômicas, ou um filme chato de adultos. nem sei mais o que anda passando hoje em dia.
      ❤❤❤

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  6. Esse texto me trouxe um aconchego tão bom. Vós e coisas que as envolvem são geralmente aconchegantes mesmo. Tenho lembranças maravilhosas na casa da minha vó paterna (que na verdade é bisa, mas sempre foi muito mais próxima que minha avó de fato), lembro de almoços de feriado, brincadeiras com minhas primas, de jogos de dominó, dos lanches da tarde que esperava ansiosíssima. Com minha vó materna sempre morei, sempre cuidou de mim, e tenho também muita sessão da tarde em minha memória com ela (sessão da tarde e todo tipo de programas que passam nesse período).
    Teu texto me deu um quentinho no peito.

    p.s: te indiquei pra uma tag lá no blog. sinta-se livre pra responder ou não ♥ (https://acid-baby.blogspot.com.br/2018/04/liebster-award.html)

    um beijo,
    acid-baby.blogspot.com

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    1. é tão bom saber disso ❤
      tenho lembranças bastante parecidas com as mesmas avós odkaspokd que pena que muita coisa mudou desde então. as memórias que sobraram sempre me deixam sentimentais e felizes de certa forma.

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  7. Olá Gabi,
    Foi muito gostoso ler esse seu texto, é engraçado como as avós deixam a nossa vida mais mágica, né? Principalmente na infância, eu sou só próxima da minha avó materna, a casa em que ela mora me proporcionou lembranças maravilhosas da minha infância, até hoje também, como ela mora no interior, e eu na cidade grande, digamos assim, sempre quando a visito me sinto mais leve e com uma paz interior.

    Abraços!

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    1. Oi Bia! Sim, os acontecimentos que contei, todos se passaram na cada de minha avó materna. Não a visito muito ultimamente, não sei exatamente porque já que moramos na mesma cidade. Fico bastante feliz comigo mesma quando ficamos lá uma tarde ou em algum dia festivo. Que saudade dessa magia! ❤

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